MIL ANOS DE SECA

Um levantamento sobre o clima futuro, feito por pesquisadores americanos, aponta que enfrentaremos pelo menos um milênio de anos mais secos, graças ao aquecimento global. O estudo foi feito por uma equipe de cientistas da NOAA, a agência americana responsável por estudar a atmosfera e os oceanos.

Uma das principais conclusões do estudo é que as mudanças climáticas, causadas pela concentração de gases como o dióxido de carbono na atmosfera, serão provavelmente irreversíveis mil anos depois que as emissões pararem. Grandes impactos já são previstos se o carbono, hoje em uma proporção de 385 partes por milhão, chegar a algo entre 450 e 600, que são perspectivas bem moderadas.

Para o próximo século, o estudo da NOAA prevê que os períodos de estiagem terão menos chuvas, em todos os continentes. Serão secas comparáveis às que ocorreram nos anos 30 e ganharam o nome de Dust Bowl.

Esse período, de 1930 a 1936, foi marcado por um fenômeno climático que acentuou as secas no meio oeste dos Estados Unidos e Canadá. O efeito da estiagem foi agravado por práticas agrícolas inadequadas, como plantio extensivo, sem rotação de culturas, e a falta de cuidados para evitar a erosão do solo. Foi também o período em que os agricultures passaram a arar a terra virgem, matando a cobertura natural de gramíneas, que mantinha o solo no lugar durante os vendavais e segurava umidade nos meses secos. O resultado foram tempestades de areia (como da foto acima) que lembravam as do Saara e arrasavam os cultivos. Isso piorou a fome e a miséria naquele período de depressão econômica.

O gráfico abaixo mostra o quando a precipitação pode cair dependendo da concentração de carbono na atmosfera. As estimativas são específicas para várias regiões como a Europa, o Norte da África, o Sudeste Asiático, a América do Sul Ocidental (basicamente o Brasil). A faixa amarela indica o quanto a precipitação caiu nesses lugares durante os anos de Dust Bowl. As regiões mais atingidas serão o Norte da África e Austrália ocidental, uma área importante de agricultura que já enfrenta secas históricas nos últimos anos. Mas, segundo o estudo, o Brasil não será poupado. A América do Sul, na linha preta, já pode chegar a níveis recorde de seca com concentrações de carbono entre 500 e 550, que são esperadas mesmo em cenários otimistas de reduções nas emissões.

Quem lê sobre as previsões de mudanças climáticas pode ter a impressão de que os cientistas são obcecados por más notícias. O fato é que os estudos sobre as perspectivas para os próximos anos são complicados, se os níveis de emissão de gases de efeito estufa continuarem os mesmos. Melhor seria se não fosse assim. Mas já que as evidências são essas, a abordagem mais construtiva é aproveitar essas informações para planejar o futuro. No caso desse estudo, a mensagem é que devemos nos preparar para uma agricultura com mais irrigação e sementes adaptadas a períodos de estiagem.

Fonte: Revista Época