O FUTURO DO LIBERALISMO ECONÔMICO

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Apresentamos o artigo do Prof. Dr. Argemiro Luís Brum - da Unijuí - que discute uma das facetas da crise que é o novo tipo de capitalismo que passará doravante a existir.

Argemiro Luis Brum
Dr. em Economia



Já analisamos neste espaço que, na prática, aquilo que o mundo vem chamando de crise financeira, na verdade se trata de um significativo ajuste nos fundamentos da economia internacional. Um ajuste salutar, pois o mercado financeiro acabou se aproveitando de um processo de desregulamentação desenfreado, posto em ação a partir de meados da década de 1980, e abusou da especulação. A tal ponto que o valor dos papéis negociados em bolsa, seja ações ou commodities, se elevou muito além do valor praticado no mercado real.

De um lado, o PIB concreto gerado pelas empresas do mundo inteiro nunca cresceu aos níveis da valorização média de suas ações nestas bolsas, assim como o preço das commodities subiu em ritmo alucinante sem haver falta e/ou demanda que justificasse tamanho ritmo de aumento. Inclusive, a alta destes preços esbarrou rapidamente na capacidade de pagamento da população mundial. Tudo isso demonstrava um claro descolamento entre a economia virtual e a economia real, indicando que um dia a bolha iria estourar.

Era preciso apenas um motivo consistente. Esse motivo veio com o estouro da bolha imobiliária nos EUA. Ou seja, nesses últimos quase dois anos o mundo esteve, mais do que nunca, à mercê de um movimento especulativo que dominou o setor financeiro, com graves conseqüências na economia real. Tão grave que a correção que agora ocorre atinge igualmente esta economia real, com o agravante de que as conseqüências levam mais tempo influindo sobre a vida de todos.

É esse contexto que permite a maioria dos analistas acreditar que os principais impactos negativos se darão em 2009 e mesmo em 2010. Por enquanto, o que se pode dizer é que a ação dos bancos centrais parece ter estancado o processo e o “fundo do poço” teria sido atingido.

Então, por que as oscilações nas bolsas continuam significativas? A resposta encontra-se novamente na especulação. Há um movimento importante de especuladores especializados, operando em “day trade”, ou seja, comprando e vendendo no mesmo dia ou entre um dia e outro no máximo, causando tais oscilações, enquanto os efeitos práticos do socorro internacional ainda não se fazem sentir. Os ganhos e perdas desses profissionais do dinheiro fácil são enormes, porém, os pequenos investidores se assustam e mais perdem do que ganham com tais movimentos.

Assim, por algumas semanas, talvez meses, ainda viver-se-á com tal situação, esperando que a ação concreta dos bancos centrais venha acompanhada de um novo sistema de regulação sobre o mercado financeiro. Isso dito, a tendência será de que o capitalismo de mercado, e particularmente o liberalismo econômico, saia fortalecido da situação. Ou seja, se as lições forem aprendidas e servirem para um ajuste efetivo no funcionamento do sistema, ter-se-á uma economia neoliberal fortalecida nos próximos anos, pois melhor estruturada, inclusive com a presença de um agente fundamental, que vinha sendo esquecido, que é o Estado. Desde que o mesmo esteja organizado para fazer frente aos novos tempos. Para muitos deles, e é o caso do Estado brasileiro, isso requer reformas estruturais que até agora não se conseguiu realizar. Essa orientação, de certa forma, já vinha sendo dada há alguns anos, pelo hoje prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman.

A base dos estudos do mesmo está no caráter desejável da intervenção pública sobre os fluxos comerciais; na observação de que as tecnologias jogam um papel fundamental nos ganhos comerciais; e que as transnacionais influenciam (negativamente), pela formação de oligopólios, os mercados, quanto menos regulados eles forem.