AVE, CAESAR OBAMA !

Por Sergio Pires
Ms. em Direito

Num filme hollywodiano de pouca qualidade, que até me esqueci o nome, há uma cena numa penitenciária muito rica de sentidos. Os presos eram comandados por um negro forte, cruel e corajoso. Mas sua autoridade é contestada por um novo detento, um apenado branco e mafioso.
A cena ocorre na espera do almoço. O antigo líder está postado, naturalmente, no primeiro lugar da fila, quando chega o intruso e passa direto ao bandeijão. O negro reclama, e o mafioso se dirige em alto bom som aos presos enfileirados e pergunta: “Alguém é contra que eu me adiante para servir”. Como ninguém quer encrenca, o silêncio é a resposta. Aí, ele complementa, de forma mordaz, em desafio ao negro: “Viu, todos concordam que eu me sirva por primeiro. É democracia, cara. Não lhe ensinaram isso em Harvard?”
Barack Hussein Obama, eleito democraticamente o novo presidente do EUA, cursou Direito em Harvard, uma das melhores universidades do mundo. Seu marketing trabalhou na campanha eleitoral a idéia de que ele é o exemplo do self made man, o homem que se fez sozinho, e está disposto a reconstruir a América capaz de embalar o sonho de cada um de seus habitantes, independentemente de raça, credo, nacionalidade, ideologia ou origem social. A América que encantou na sua origem os imigrantes de todo o planeta.
Convém, contudo, esclarecer que ninguém estuda em Harvard sem pertencer à elite dos EUA ou do mundo. Obama nasceu em berço de novos ricos e incrementou sua própria fortuna nos anos em que atuou como advogado. Não é um “quatracentão”, mas está longe de pertencer ao mundo do excluídos americanos. Em sua trajetória profissional ou política nunca se notabilizou por abraçar qualquer causa dos integrantes da base da pirâmide social, nem sequer a causa dos negros, apesar de mulato.
Sua ascensão ao cargo mais importante da Terra não garante, pois, qualquer alento maior às causas populares. Sua plataforma, antes da vitória sobre Hillary Clinton (a candidata orgânica do Partido Democrata), era completamente vazia de praticidade. A crítica que lhe fez Bill Clinton de que “se pode fazer campanha com poesia, mas se governa em prosa” continua absolutamente oportuna.
Durante a história do Império Romano, a plebe ansiava sempre por um César bondoso, como Marco Aurélio, e temia a repetição de um celerado, com Calígula. Em Roma, o poder imperial estava concentrado em grande parte na pessoa do governante. Não é o caso do império atual. Nos EUA de hoje, o poder está distribuído pelo complexo bélico-financeiro-industrial que manipula o PIB e a riqueza mundial.
O presidente é cada vez mais apenas um símbolo. No caso de Obama, pelo menos, um símbolo de esperança. Esperança, por exemplo, de que um dia os negros e outros excluídos possam ocupar em proporção seus lugares nas bancadas de Harvard.
Bueno, sempre vale a pena sonhar!