A REPÚBLICA E IJUHY

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A Proclamação da República e sua vinculação com Ijuhy

Hilário Barbian – Prof. DCS/UNIJUI

José Augusto Fiorin - Prof. IMEAB/SEG/FAGEP

O 15 de novembro é feriado nacional em homenagem à Proclamação da República. Mas qual seria a idéia de República? Porque e em que contexto a mesma emergiu? Que significado histórico e contemporâneo esta data possui hoje?

Na atualidade, palavras como cidadania, democracia e república fazem parte de nosso cotidiano e, por isso são familiares a nosso vocabulário. Porém, elas remetem a um contexto histórico cuja acepção refere-se a instalação de um novo sistema político-administrativo no Brasil. Os distintos períodos administrativos como a dependência colonial de 322 anos, a centralização do poder imperial com o país independente e que durou 67 anos, contrasta com o período republicano que emerge em 1889 e que tem até aqui uma duração de 119 anos. A república teve o poder estruturado de forma moderna, baseado nos cidadãos que são, em última instância, a fonte deste poder.

A idéia de República provém dos romanos. A palavra deriva do latim: (res - coisa) e (publicus – povo). Ou seja, coisa do povo. Mas é na Revolução Francesa, de 1789, que os ideais iluministas triunfaram e o modelo republicano emerge e se afirma. No Brasil, a República nasceu através de um golpe militar em função de uma crise política envolvendo cafeicultores e militares com a Monarquia e que vinha se acentuando há vários anos.


O evento da proclamação da República não passou de uma parada militar entre o Itamaraty e a Assembléia Legislativa, no Rio de Janeiro, com a deposição e expatriação de D. Pedro II a qual o povo “assistiu bestializado”, na visão de Aristides Lobo, um observador da época. Deposto o rei, tal qual a simbologia da Revolução Francesa, passou-se a representar a República pela figura feminina inspirada em Palas Atena, símbolo da guerra justa e da liberdade. Como exemplo, vide a própria representação da Estátua da Liberdade localizada em Nova Iorque, que foi doada aos americanos pelo povo francês, em 1889.

Convém lembrar que, como forma de governo, a República no Brasil só se concretizou quase 70 anos após a independência. As outras repúblicas latino-americanas - paises que falam línguas derivadas do latim como o espanhol e o português - surgiram no primeiro quartel do século XIX sendo instaladas a partir da conquista da independência e continha um forte caráter de heroísmo por ter sido conquistada através de grande envolvimento da população em guerras contra o exército da Espanha.

Isso explica o fato da república ser um movimento sem raízes na cultura popular brasileira e que continua muito marcada pelos símbolos monárquicos. Isso se confirma com eloqüência no cotidiano das pessoas com expressões do tipo o “rei Roberto Carlos”, ou o “rei Pelé” ou ainda a “rainha Xuxa”.

Quem promoveu a República

Mas afinal, baseado em que forças e setores sociais foi proclamada a República? A resposta deve ser buscada na ascensão do exército que voltou da guerra do Paraguai com uma redobrada vontade de inserção na seara política – que vai findar no que hoje se chama de tutela da sociedade brasileira pelas Forças Armadas, junto com a Marinha e a Aeronáutica. Em conluio com o exercito estava a aristocracia rural formada basicamente pelos cafeicultores descontentes com Dom Pedro II.

E que modelo os mesmos utilizam para sua consolidação? O que se tem percebido é que o modelo republicano francês prevaleceu diante do modelo liberal americano. O comprovam a abundância de símbolos e pelo misticismo romântico em alusão à comemoração do centenário da Revolução Francesa, comemorada concomitantemente com a proclamação da República, em 1889. Na verdade, acabou-se por substituir uma monarquia parlamentarista das mais avançadas da época por uma república oligárquica.

Símbolos da República

Os dois maiores símbolos nacionais da República não foram criados com a instauração da República. O hino nacional, de Francisco Manuel da Silva, remonta a 1831 sendo música e letra feitas em júbilo pela abdicação de D. Pedro I e como saudação pela futura coroação de D. Pedro II. A bandeira foi apenas redesenhada com a legenda positivista – ordem e progresso - uma vez que as cores e os elementos geométricos de nossas riquezas já estavam na bandeira imperial.

Também convém destacar as imagens que surgiram nesse contexto. Sob a perspectiva de Benedito Calixto a exaltação do Exército não aconteceu por acaso. Isso ocorreu, em decorrência do novo regime ser escudado pelos militares que passaram a serem vistos como esteio da nação e cuja imagem épica associou-se à liberdade que seria inerente à República.

Com a instauração da República e ascensão de um novo grupo social – os cafeicultores – houve uma reinterpretação da história do Brasil já que não havia mais a presença incômoda do monarca. Como exemplo, trouxe à tona a figura de Tiradentes que foi guindado a condição de herói por ter encetado uma luta anti-monarquista no final do século XVIII. Sua rebeldia refletia o caráter plebeu, humilde de um homem do povo que lutou pela independência do seu país e morreu resignado por ter cumprido um dever cívico. Somou-se ainda sua morte trágica pela forca e a retaliação do seu corpo cujas partes foram expostas ao longo do caminho do Rio de Janeiro a Vila Rica – hoje Ouro Preto.

Ou seja, a afirmação da república brasileira necessita da emolduração de um herói nacional e que seria portador da unidade do país. Isso porque a República não possuía nenhuma figura capaz de sintetizar e de sustentar simbolicamente o novo regime. O 15 de novembro fora o desfecho de um movimento que quase não tinha nenhum contato com as forças e culturas populares já que foi o resultado de um golpe militar que precisava de legitimação. Visando cobrir esta defasagem foi encomendado ao pintor Pedro Américo o quadro “Tiradentes Esquartejado”, cuja figura se assemelhava a Jesus Cristo. Objetivava-se simbolizar uma comparação do sofrimento de Tiradentes com o de Cristo. E que ambos morreram em função da libertação de seu povo.


Imagem melhor não se precisava. O quadro de Pedro Américo, mostrando o corpo de Tiradentes todo esquartejado e ensangüentado, junto com a reinterpretação da sua dolorosa morte fazia tocar o sentimento de todas as crianças. Assim, a República encontrava seu lastro histórico. E para valorizar o novo personagem, o dia da sua morte – 21 de abril – foi transformado em feriado nacional já em 1890. Mas a força da idéia republicana foi tão avassaladora que merecia ter outro feriado – o 15 de novembro – data da sua instauração em 1889.

Ijuhy e a República

Mas tudo isso ainda não era suficiente. A República tinha que literalmente ganhar às ruas. Neste sentido não se economizou na denominação de ruas, praças e logradouros públicos com as datas atinentes ao evento e as pessoas envolvidas na consumação da nova forma de governo.

Vista aérea do centro de Ijuí, em 1961. A instauração da República está representada desde a fundação da Colônia Ijuhy (1890): Praça da República, Rua 15 de Novembro, Rua Benjamin Constant. O ideário republicano e positivista está sobejamente materializado nos nomes das ruas e praça.


Quer-se exemplo melhor do que Ijuí? Sua colonização é obra direta da República. Em sendo assim, esbanjou-se nomes e datas às ruas e avenidas, relacionadas ao fato: Rua 15 de Novembro (instauração da República, Rua 24 de Fevereiro (promulgação da Constituição de 1891), Avenida 21 de Abril (morte de Tiradentes), Rua 14 de Julho (eclosão da Revolução Francesa). E datas ligadas a fatos históricos reinterpretados: Rua 7 de Setembro (Independência do Brasil), Rua 13 de Maio (abolição da escravidão), Rua 12 de Outubro (descoberta da América). E logradouros como Praça da República. Já nomes de personagens ligados à República também existem: Rua Floriano Peixoto (militar que consolidou a República), Rua Benjamin Constant (ideólogo do positivismo e da República).

Na verdade, o nome de ruas e logradouros públicos tem suas designações originadas na vertente da filosofia de Augusto Conte que é o Positivismo. Daí porque os demais nomes têm a ver com personagens que fizeram parte do Partido Republicano Riograndense, que comandou o Estado de 1889 a 1930 e que consolidou a República no estado nas figuras de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros.