Por Argemiro Luís Brum
Dr. em Economia
Após subestimar os impactos da crise na economia brasileira, assim como alguns setores empresariais nacionais, o governo federal vem agindo de forma constante para tentar segurar um mínimo de crescimento econômico para 2009. Diante da tendência internacional de recessão, já se começa a realizar a possibilidade de um crescimento abaixo de 3% no Brasil para o próximo ano, contrastando com os 5,3% em 2007 e, talvez, com os 4,5% a 5,0% em 2008. Dentre as medidas, destaca-se a forte liberação de crédito público, ao menos na imprensa, para os diferentes setores produtivos nacionais, já que o setor financeiro privado se encolheu. A atitude é correta no imediato, porém, pode gerar problemas futuros. Um volume de crédito a setores como a construção civil, automóveis, agricultura e outros, se não for bem dosado, poderá gerar um potencial de inflação importante nos próximos meses, potencial esse que se soma a importações mais caras devido à desvalorização repentina e forte do Real. Além disso, as reservas públicas para manter a economia diminuem rapidamente, podendo levar à emissão de moeda acima do aceitável, gerando ainda mais inflação. Por outro lado, o Copom, segurou a taxa de juro (SELIC), porém, a inflação continua subindo no país. Ou seja, rapidamente o mesmo terá que voltar a elevar o juro para segurar os preços nacionais, ou então perde o controle sobre a mesma, reconstruindo o maior e mais nefasto imposto que pesa sobre uma sociedade. Nesse caso, de nada adiantará manter certo crescimento, se os ganhos com o mesmo serão eliminados pela alta dos preços e a desestruturação da estabilidade econômica que poderá a ela se seguir.
O CRÉDITO AGRÍCOLA
No contexto da geração de crédito, diante da crise que se abateu sobre o mundo, o governo brasileiro tem constantemente anunciado novos volumes oficiais liberados ao meio rural nacional. Isso, sem dúvida, é necessário para irrigar um setor que historicamente está endividado e com pouca liquidez própria. Além disso, nesse momento de aperto, as ideologias e o populismo são esquecidos, e o agronegócio ganha importância nos meios oficiais, pois se sabe de sua real importância para a sustentação do crescimento da economia nacional, além da geração de empregos e superávit na balança comercial. Todavia, o problema central é fazer com que o dinheiro realmente chegue ao produtor rural. Em segundo lugar, um grande número de produtores não se encontra em condições financeiras de ver seus pedidos de crédito aceitos. Enfim, a burocracia nacional é tanta que parte dos recursos tende a se perder pelo caminho, irrigando negócios que nada têm a ver com a agropecuária. Assim, além do clima, nesta nova safra 2008/09, o setor primário brasileiro terá outra enorme dificuldade pela frente: a falta de liquidez num momento em que novos arroubos de euforia irracional o levou a mais endividamentos pesados e, as vezes, desnecessários para a realidade que vivemos.
UM EXEMPLO DA CRISE: O MATO GROSSO
Considerado até pouco tempo como o eldorado agrícola nacional, a região do Centro-Oeste brasileiro, apesar de suas evidentes vantagens comparativas, vem sofrendo uma crise sem precedentes, agora agravada pela crise financeira mundial. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (IMEA), sem medidas estruturais para a recuperação do crédito dos produtores, 2009 e anos seguintes serão ainda piores do que os recentemente vividos na região. Ou seja, de nada adianta liberações pontuais de crédito, como o governo federal vem fazendo, pois as mesmas apenas empurram o problema para diante, sem resolvê-lo. Para se ter uma idéia, a necessidade de crédito para a safra 2008/09, no Mato Grosso, monta a R$ 8,31 bilhões somente para a soja. São necessários outros R$ 1,81 bilhão para o milho e R$ 2,11 bilhões para o algodão. Ou seja, nesta nova safra será preciso 43% a mais de crédito do que o ano anterior, devido ao aumento dos insumos agrícolas. Em relação aos recursos próprios existentes junto aos produtores locais, estaria faltando 46% da necessidade total para semear a soja. Deste total, boa parte deveria ser financiado pelas companhias multinacionais compradoras dos produtos. Ora, a crise mundial fez este crédito desaparecer do mercado. A preocupação é tanta que o IMEA chega a projetar uma redução de 30% na área semeada com milho, 25% com algodão e estagnação na soja. Em isso ocorrendo, a perda no Valor Bruto da Produção no Mato Grosso seria de R$ 2,1 bilhões. Isso explica a corrida oficial em anunciar liberação de crédito para o setor primário brasileiro.
BOLSAS CONTINUAM INSTÁVEIS
Apesar de o mercado estar mais calmo neste início de novembro (nos primeiros cinco dias do mês as bolsas registraram bons ganhos, seguidos de perdas importantes no sexto dia), os efeitos da crise mundial surgem a todo o momento. A tal ponto que as bolsas de valores continuam muito instáveis. No ano, por exemplo, a Bovespa ainda perde 37%, Wall Street 25,8%, a Nasdaq 32,4%, a bolsa japonesa 39,5%, Londres 25,3%, e a Bolsa de Buenos Aires 47,4%. Portanto, todo cuidado é pouco, pois levará tempo para o mercado se reestruturar.