A CIRÚRGIA DE JOSÉ DE ALENCAR

“Cirurgia de José Alencar foi ato heroico para quem não tinha outra opção”, diz médico. Para o cirurgião Ademar Lopes, responsável pelo procedimento, o vice-presidente "enxerga uma pequena janela de sobrevivência e aceita fazer tudo por ela"

Depois de enfrentar uma cirurgia de 17 horas para remoção de tumores na região do retroperitônio (camada que fica entre o músculo das costas e o intestino), o vice-presidente José Alencar respira com a ajuda de aparelhos e não tem previsão de alta da UTI do Hospital Sírio Libanês. "A cirurgia foi um ato heroico para quem não tinha outra opção", disse a ÉPOCA o médico Ademar Lopes, responsável pela equipe que operou o vice-presidente. Lopes é diretor do departamento de cirurgia pélvica do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, e já fez mais de 5 mil cirurgias.

Lopes afirma que Alencar e a família conheciam todos os riscos envolvidos na cirurgia e assinaram um documento concordando com o procedimento. "Alencar não é o tipo de paciente que acha que vai morrer. Ele enxerga uma pequena janela de sobrevivência e aceita fazer tudo por ela", afirma.

Desde 2006, Alencar luta contra o sarcoma. Trata-se de um câncer que ocorre em tecidos como músculo, gordura e nervos. O primeiro deles foi retirado em julho de 2006 numa operação comandada pelo cirurgião Raul Cutait, do Hospital Sírio Libanês. Desde então, novos sarcomas surgiram e foram extraídos em sucessivas cirurgias.

A operação de domingo foi a maior e mais complicada que o vice-presidente já enfrentou. O tecido extraído media 12 centrímetros do maior lado. Era composto por um tumor principal e cerca de outros dez tumores menores espalhados na região. Os médicos extraíram um pedaço do intestino delgado e outro do intestino grosso. Também retiraram dois terços do canal que leva urina do rim para a bexiga (chamado de ureter) e parte da musculatura da região. O ureter foi reconstruído com um pedaço do intestino. Essa foi a parte mais arriscada da cirurgia porque Alencar tem apenas o rim esquerdo. Se algo desse errado, a função renal ficaria completamente comprometida.

Para tentar evitar o crescimento de possíveis tumores invisíveis a olho nu, o médico adotou um tratamento pouco usual chamado de quimioterapia intraperitoneal hipertérmica. Trata-se de uma "lavagem" da região com uma solução quimioterápica aquecida a 42 graus. "Todos os tumores visíveis foram retirados", diz Lopes.

O maior desafio do vice-presidente será enfrentar os primeiros dias do pós-operatório. Nessa fase podem ocorrer problemas graves como infecções pulmonares, sangramentos e aberturas dos pontos cirúrgicos (fístulas). "Não quero falar sobre esses riscos", diz Lopes. "Sou meio supersticioso."

Fonte: Revista Época