A União Sul-Africana

Em 1910, as quatro grandes colônias da região (Transvaal, Orange, Cabo e Natal) se uniram e formaram uma região autônoma dentro do Império Britânico, chamada União Sul-Africana. As elites brancas descendentes de holandeses e de ingleses passaram a organizar um país de acordo com suas convicções racistas e separatistas, criando leis cada vez mais severas, preparando o terreno para o apartheid. Em 1931, a União Sul-Africana conquistou a independência e passou a se chamar África do Sul, que viria a implantar o regime de “desenvolvimento separado”, como as elites chamavam o apartheid, em 1948.

Crédito: Portal Educacional

Bandeira da África do Sul entre 1910 e 1928
Crédito: Portal Educacional

Bandeira da África do Sul entre 1928 e 1994

Apesar de implantado em 1948, o apartheid começou a ser desenhado em 1913 com a chegada ao poder do Partido Nacional. É exatamente nessa fase, entre as décadas de 1910 e 1940, que se estabeleceram asregras básicas do apartheid, como, por exemplo:
— 13% do território sul-africano foram destinados às populações não europeias. Fora desse território nenhum negro podia adquirir terras, mesmo que tivesse dinheiro para isso. Tal lei — que foi chamada de Ato da Terra — forçou muitos africanos a rumar para as cidades;
— nas minas, o salário de um branco era dez vezes superior ao de um negro;
— a educação nas escolas para negros procurava prepará-los para trabalhos braçais;
— a entrada de negros nas áreas brancas era permitida apenas com uma espécie de salvo-conduto (mais comumente chamado de passe). Essa determinação ficou conhecida como Lei do Passe.

As consequências dessas regras draconianas contra as populações negras foram terríveis. As áreas reservadas a negros eram poucas e, dessa forma, superpovoadas e com altíssimos índices de natalidade. Essa expansão demográfica acabou provocando um enfraquecimento muito rápido dos solos férteis dessas regiões e uma sobrecarga nas áreas pastoris, empobrecendo ainda mais essa população e dando início a um processo intenso de favelização.

Do outro lado do apartheid, os 21% de europeus concentravam 75% da riqueza produzida no país e eram responsáveis por invejáveis índices de desenvolvimento, em especial no setor industrial. Porém, para acompanhar um desenvolvimento industrial altíssimo, produzido pela minoria branca, era preciso mão de obra negra. Para atender essa demanda, os passes eram distribuídos entre a população “separada”, que constituía, aproximadamente, 80% da força de trabalho, segundo o historiador Maurice Crouzet.

Mas uma pergunta que certamente é difícil de responder é: por que os europeus da África do Sul implantaram um sistema tão discriminatório?

Crouzet tenta responder a essa questão chamando atenção para o fato de que essa situação na União Sul-Africana chegou a tal ponto em consequência de:
— medo dos africânderes de importar mão de obra branca e perder status;
— medo do desemprego, por parte da elite branca, se chegassem muitos trabalhadores brancos;
— racismo e preconceito dos descendentes dos bôeres contra tudo que fosse estrangeiro ou africano.