Bem, como este é um dos assuntos do momento em Ijuí eu não poderia deixar de registrar minha opinião.
Em primeiro lugar quero dizer que sou totalmente contra que o patrimônio da cidade seja doado e que a entidade que recebeu possa fazer o que quiser com a doação, inclusive vender e pagar suas dívidas.
Na lei de doações para indústrias e agroindústrias existe a ressalva que a área doada fica eternamente alienada ao município. Se a empresa deixar de existir deve devolver a área para o patrimônio público. Assim penso que deveria ser com qualquer tipo de doação do municipío. Ao permitirmos a venda do patrimônio doado em benefício de quem recebe a doação estamos criando um precedente importante e que pode gerar favorecimentos e obtenção de ganhos indevidos. E não estou dizendo que seja este o caso!
Mas esta não foi a idéia da Câmara de Vereadores, que revogou a lei que dizia que o estádio era bem da coletividade, cedido ao clube.
E temos que acatar!
A grande discussão agora é: onde deverá ser construído o novo estádio? Aparentemente o São Luiz não tem condições de, mesmo vendendo o atual estádio, pagar suas dívidas e construir um novo estádio sozinho e pretende que a prefeitura novamente doe um terreno para que eles façam isso. E pretendem que esta área seja o campo de futebol do Poliesportivo. Segundo o que se lê por aí, esta área já teria infraestrutura pronta diminuindo os custos da nova obra.
Nestes dias de discussão pessoas chegaram a argumentar que a pista de caminhadas e corridas é utilizada por meia dúzia de pessoas, para desmerecer o local. Dizem que poderia se fazer uma pista de caminhadas na praça dos Imigrantes (talvez em volta da gangorra?) Ou que as pessoas poderiam usar a calçada em volta do novo e moderno estádio para suas atividades.
Em relação a existência de infraestrutura básica no local em questão, gostaria de lembrar que não existe drenagem naquele local e todo o gramado e a pista teriam que ser desmanchados para que se fizesse a drenagem. Muito pouco se aproveitaria no local. E, com certeza, ninguém quer um campo que vire piscina nas chuvas!
Dizer que apenas meia dúzia de pessoas usa o local é uma grande besteira de quem sequer conhece o local. Queria que estas pessoas contassem quantas pessoas usam o Poliesportivo para suas caminhadas e lazer em um mês e quantas entram no estádio no mesmo período. Durante todo o ano!
Como não conhecem o local não sabem que mães e pais levam seus filhos para brincar enquanto fazem seus exercícios, que muitos jogam bola nos gramados, enfim, a área é muito utilizada por todos aqueles que buscam atividades saudáveis. Trocar isso por caminhar em volta do estádio na calçada é um despropósito. E uma mini pista na praça então, nem pensar!
Há os que argumentam que o estádio deveria ser no centro da cidade porque, se não for, ninguém irá ao estádio. E um se levanta para defender que em São Paulo todos os estádios são próximos e o que fica longe ninguém vai. Próximos? Em São Paulo? Próximos de quê e de quem? Próximo em São Paulo deve significar o quê, 30 quilômetros? Ah não, é próximo de uma estação de metrô! Ou seja, o cidadão sai de casa anda 1 hora de metrô e chega no estádio, que fica bem pertinho da estação. Isso é perto? E ainda assim as pessoas vão aos estádios. Aqui não podemos pensar que o estádio fique a 3 quilômetros do centro porque ninguém irá…Vai entender!
Os defensores de que o estádio seja no centro argumentam que as pessoas não irão ao estádio se ele não for em área central e que precisamos pensar com grandeza e no futuro. Mas pergunto: então o Grêmio está completamente equivocado ao construir seu estádio bem longe da área central e ninguém irá mais assistir jogos do Grêmio? Estará o time do Grêmio fadado à falência por falta absoluta de torcedores em seus jogos? Temos que pensar grande e no futuro? Mas será que um estádio em zona central não é exatamente o contrário disso? Construir um estádio em uma área pequena, sem possibilidade de expansão e sem locais de estacionamento não é exatamente pensar no hoje e pequeno? Como será o futuro?
Será que é a distância que impede que torcedores se dirijam ao estádio ou é a falta do que ver em campo? Será que é a distância ou a falta de estrutura como banheiros, por exemplo? Se a distância fosse impeditivo de alguma coisa nesta cidade não estaria a Expo também condenada? Não se formam filas enormes de carros em épocas de feira? Muitas vezes demora-se 1 hora para chegar até o parque de exposições e mesmo assim as pessoas vão até lá, ou não? Só para ilustrar o que estou dizendo, na Jamaica um dia de jogo é um dia de grandes comemorações. Programam-se espetáculos nos estádios antes dos jogas, atraindo todos para a grande festa que nem precisa ser necessáriamente o jogo em si. Porque não aproveitar estas idéias e promover eventos que possam atrair o público?
Bem, mas o São Luiz e a cidade merecem um novo estádio?
Com certeza!
E que seja grande, amplo, moderno, com múltiplas opções como muitos querem. E que seja em uma área onde possa haver facilidade de acesso, estacionamento e estruturas adequadas para todos.
Onde será? Acho que isso nem é o mais importante. Acho que o que seria realmente importante que se discutisse é qual é nossa política de incentivo aos esportes na cidade.
Preocupa-me que o prefeito da cidade apóie a idéia descabida de tirar o Poliesportivo do uso da população e não tenha nenhuma política que venha evitar que o estádio seja novamente vendido. Nada que garanta que o São Luiz não pretenda vender de novo o patrimônio público.
Como garantir o sustento do clube, garantindo que em 10 anos eles não estejam novamente afundados em dívidas e leis tenham que ser alteradas para evitar o leilão? Como evitar que a história se repita? Como garantir a sustentabilidade do clube, patrimônio esportivo da cidade, e evitar que passe por dificuldades no futuro?
Uma das respostas é tendo uma política que valorize o esporte. Infelizmente em nossa cidade não temos isso. Quantas das proposições da Conferência Municipal dos Esportes passada foram cumpridas pela prefeitura? Não terá sido este o motivo de uma Conferência esvaziada neste ano?
Entre tantas idéias que podem surgir neste tema a minha sugestão é que toda e qualquer empresa que se beneficie de incentivos e recursos públicos, instaladas ou que venham a se instalar na cidade, sejam convidadas fortemente a doar parte de seus impostos para atividades desportivas.
Teríamos assim muito dinheiro para ajudar a todas as modalidades esportivas nesta cidade.
Assim, Cerélus, Cisbra e ASSCAMI, só para citar as mais recentes beneficiadas, poderiam sustentar o time do São Luiz e garantir a qualidade por muitos anos da equipe. E quem sabe até ajudar na construção do novo estádio, desonerando o município desta tarefa?
E com a contribuição de tantas outras indústrias, que o Executivo não para de alardear em nossa cidade, possamos ainda incentivar tantas outras modalidades desportivas e destacar o nome da cidade no cenário esportivo nacional e, quem sabe até, internacional!
E, por fim, gostaria ainda de abordar a idéia que corre do futuro comprador do atual estádio que dizem ser de construir um shopping ou algo similar no lugar.
Nossa cidade é pequena e tem sérias dificuldades para manter empreendimentos muito grandes. Até porque as lojas sequer podem abrir nos domingos. Vejam o exemplo de Cruz Alta e no que se tornou o shopping daquela cidade. O que era para ser um grande empreendimento virou apenas uma caricatura de shopping.
Espertos foram em Lajeado que construíram o shopping nas margens da BR, fazendo com que o local seja ponto de referência para todos que transitam por ali. Souberam aproveitar o movimento da estrada. E, vejam, as pessoas da cidade vão até lá mesmo não sendo no centro!
Pensem nisso!
Mas pensem com grandeza e pensando no futuro! Construam um estádio que possa suportar grandes eventos, que tenha multifuncionalidade em áreas com possibilidade de expansão. E mais que isso: briguem para que tenhamos uma política de apoio ao esporte nessa cidade!
E que venham os tomates!