Vargas e o suicídio


Há 57 anos um ato entraria para a historia. O suicídio de Getulio Dorneles Vargas, que por 19 anos comandou esse pais ocorria em 24 de agosto de 1954. Os antecedentes a morte remontam o crime da rua Tonelero. Getúlio Vargas foi pressionado, pela imprensa e por militares, a renunciar ou, ao menos, licenciar-se da presidência.
Esta crise levou Getúlio Vargas ao suicídio, logo depois de sua última reunião ministerial, na qual fora aconselhado, por ministros, a se licenciar da presidência.
Getúlio registrou em sua agenda de compromissos, na página do dia 23 de agosto de 1954, segunda-feira:
"Já que o ministério não chegou a uma conclusão, eu vou decidir: determino que os ministros militares mantenham a ordem pública. Se a ordem for mantida, entrarei com pedido de licença. Em caso contrário, os revoltosos encontrarão aqui o meu cadáver."
Concordou em se licenciar sob condições, que constavam da nota oficial da presidência da república divulgada naquela madrugada:
"Deliberou o Presidente Getúlio Vargas ... entrar em licença, desde que seja mantida a ordem e os poderes constituídos ..., em caso contrário, persistirá inabalável no propósito de defender suas prerrogativas constitucionais, com sacrifício, se necessário, de sua própria vida".
Getúlio, no final da reunião ministerial, assina um papel, que os ministros não sabiam o que era, nem ousaram perguntar. Encerrada a reunião ministerial, sobe as escadas para ir ao seu apartamento. Vira-se e despede-se do ministro da Justiça Tancredo Neves, dando a ele uma caneta Parker 21 de ouro e diz:
“Para o amigo certo das horas incertas!"
A data não poderia ser mais emblemática: Getúlio, que se sentia massacrado pela oposição, pela "República do Galeão" e pela imprensa, escolheu a noite de São Bartolomeu para sua morte.
Suicidou-se com um tiro no coração, nos seus aposentos, no Palácio do Catete, naquela madrugada de 24 de agosto de 1954.
Assumiu então a presidência da república, no dia 24 de agosto, o vice-presidente potiguar Café Filho, da oposição a Getúlio, que nomeou uma nova equipe de ministros e deu nova orientação ao governo.
Com grande comoção popular nas ruas, seu corpo foi levado para ser enterrado em sua terra natal. A família de Getúlio recusou-se a aceitar que um avião da FAB transportasse o corpo de Getúlio até o Rio Grande do Sul. A família de Getúlio também recusou as homenagens oficiais que o novo governo de Café Filho queria prestar ao ex-presidente falecido.
Getúlio deixou duas notas de suicídio, uma manuscrita e outra datilografada, as quais receberam o nome de "carta-testamento".
Também fez um discurso emocionado, no enterro de Getúlio, na sua cidade natal São Borja, o amigo e aliado de longa data Osvaldo Aranha que disse:
“Nós, os teus amigos, continuaremos, depois da tua morte, mais fiéis do que na vida: nós queremos o que tu sempre quiseste para este País. Queremos a ordem, a paz, o amor para os brasileiros!”
Oswaldo Aranha, que tantas vezes rompera e se reconciliara com Getúlio, acrescentou:
“Quando, há vinte e tantos anos, assumiste o governo deste País, o Brasil era uma terra parada, onde tudo era natural e simples; não conhecia nem o progresso, nem as leis de solidariedade entre as classes, não conhecia as grandes iniciativas, não se conhecia o Brasil. Tu entreabriste para o Brasil a consciência das coisas, a realidade dos problemas, a perspectiva dos nossos destinos".
O gaucho que sairia de São Borja, se tornaria o mais emblemático presidente brasileiro vivendo distintos períodos da historia política deste pais. Pais dos pobre ou mãe dos ricos? Na verdade, um misto de ditador e populista adequando-se a necessidade do contexto. Sua sombra persiste. Seus ensinamentos tiveram seguidores e sua bandeira de luta ainda permanece viva.