Vasco da Gama retorna vitorioso a Portugal em 1499. Traz uma
carga de porcelanas, sedas, tapetes e especiarias que garantem grandes lucros à
Coroa. Rapidamente uma nova expedição é organizada e seu comando é entregue ao
almirante Pedro Álvares Cabral. A esquadra sai da praia do Restelo, em Lisboa,
dia 9 de março de 1500, com destino a Calicute, na Índia. Seu objetivo é
estabelecer uma feitoria – espécie de entreposto comercial – e fazer acordos
com o soberano local que garantam o monopólio do comércio para Portugal.
Pedro Álvares Cabral (1467-1517) é o segundo filho dos senhores do Castelo
e das terras de vila Belmonte, na Beira-Baixa. A história de sua família é
semelhante à da maioria da nobreza portuguesa: cavaleiros e soldados, inclusive
mercenários, que conquistam títulos e terras na luta pela reconquista do
território aos muçulmanos e, num segundo momento, nas guerras contra Castela
que levam a casa de Avis ao trono português. Pedro Álvares muda-se para a corte
aos 11 anos. Estuda literatura, história e ciências, cosmografia, marinharia e
as artes militares. Aos 16 anos é nomeado fidalgo da corte de dom João II. No
reinado de dom Manuel, passa a integrar o Conselho do Rei, é admitido na Ordem
de Cristo – uma distinção entre os nobres – e recebe uma pensão anual. Aos 33
anos é escolhido para comandar a segunda expedição às Índias. Depois de
alcançar as terras brasileiras, retoma a rota de Vasco da Gama. Aporta em
várias reinos africanos, estabelece relações com os poderosos locais e chega a
Calicute em 13 de setembro de 1500. Ao voltar a Lisboa, dia 6 de junho de 1501,
é aclamado herói. Sua glória dura pouco. Desentende-se com o rei sobre o
comando da próxima expedição às Índias, programada para 1502. Vasco da Gama é
escolhido para comandar a esquadra, e Cabral desaparece do cenário político.
Esquadra de Cabral – Cabral comanda a maior e mais bem
equipada frota a zarpar dos portos ibéricos até então. Com dez naus e três
caravelas, leva 1.500 homens, quase 3% da população de Lisboa, na época com
cerca de 50 mil habitantes. São representantes da nobreza, comerciantes,
artesãos, religiosos, alguns degredados e soldados. Participa da expedição um
banqueiro florentino, Bartholomeu Marquione, elo de ligação entre a Coroa
portuguesa e Lourenço de Medici, o senhor de Florença. É essa expedição que
descobre o Brasil, dia 22 de abril de 1500.
Os pilotos – A esquadra inclui alguns dos mais
experientes navegadores da época. Um deles é Bartolomeu Dias, o primeiro a
contornar o cabo da Boa Esperança e a descobrir a passagem marítima para a
Ásia, em 1485. Outro é Duarte Pacheco Pereira, apontado pelos historiadores
como um dos mais completos cartógrafos e pilotos da Marinha portuguesa do
período. Bartolomeu Dias não chega às Índias. Morre quando seu navio naufraga
justamente ao cruzar o cabo da Boa Esperança, que conquistara 12 anos antes.
O
polêmico desvio de rota
Por muito tempo, o descobrimento do Brasil, ou
"achamento", como registra o escrivão Pero Vaz de Caminha, é
considerado simples acaso, resultado de um desvio de rota. A partir de 1940
vários historiadores brasileiros e portugueses passam a defender a tese da
intencionalidade da descoberta, hoje amplamente aceita.
Descoberta intencional – Os historiadores argumentam que,
no final do século XV, Portugal já sabe da existência de uma grande área de
terra firme a oeste do Atlântico. Pode ter sido avistada por seus pilotos que
navegaram para regiões ao sul do golfo da Guiné. Até o golfo, as correntes
marinhas são descendentes e é possível fazer uma navegação costeira. Do golfo da
Guiné para baixo, as correntes se invertem. Para atingir o sul da África é
preciso afastar-se da costa para evitar os ventos e correntes que ali têm
ascendente (corrente de Benguela), navegar para o ocidente até pegar a
"volta do mar", hoje chamada corrente do Brasil : ventos e correntes
descendentes que passam pelo nordeste brasileiro e levam ao sul do continente
africano. O primeiro a fazer isso é Diogo Cão, em 1482, seguido depois por
Bartolomeu Dias e Vasco da Gama ao contornarem o cabo da Boa Esperança.
A "quarta parte" – Em 1498 o rei dom Manuel manda o
cosmógrafo e navegante Duarte Pacheco Pereira percorrer a mesma rota de Vasco
da Gama e explorar a chamada "quarta parte", o quadrante oeste do
Atlântico sul. Em seu livro Esmeraldo de situ
orbi, o navegante relata suas descobertas: "...temos sabido e visto donde nos vossa alteza mandou
descobrir a parte ocidental, passando além da grandeza do mar Oceano, onde foi
achada e navegada uma tão grande terra firme, com muitas e grandes ilhas
adjacentes..." Mais dois navegantes espanhóis, Vicente Pinzón e
Diego de Lepe, também teriam aportado nessas terras, respectivamente em janeiro
e fevereiro de 1500. Não tomam posse do território por saberem estar na área
portuguesa demarcada pelo Tratado de Tordesilhas.
A posse da terra
A esquadra portuguesa avista sinais de terra dia 21 de abril
pela manhã, segundo a carta de Pero Vaz de Caminha: "...eram muita quantidade de ervas compridas a que os
mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo de asno".
Na manhã seguinte, 22 de abril, avistam aves e "... neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de
terra! Primeiramente de um grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras
mais baixas ao sul dele, e de terra chã..."
Local do desembarque – Na manhã do dia 23, procuram uma
área abrigada dos ventos para o desembarque — um porto seguro. Por muito tempo,
esse local é confundido com a atual cidade de Porto Seguro, na Bahia. A partir
de 1940, historiadores brasileiros e portugueses reestudam a questão e concluem
que o verdadeiro local do desembarque é a baia Cabrália, ao norte da cidade de
Porto Seguro.
Primeira missa e posse formal – No dia 26 de abril, frei Henrique
de Coimbra, capelão da esquadra, celebra a primeira missa na nova terra, no
local hoje conhecido como Coroa Vermelha – na época um ilhéu, atualmente um
promontório. Cabral toma posse formal do novo território em nome da casa real
portuguesa em 1º de maio. No dia seguinte, a esquadra parte rumo às Índias. Uma
nau volta a Portugal com as cartas dos pilotos, inclusive a de Caminha, que
relatam a descoberta ao rei. Ficam em terra dois desertores e dois marinheiros
com a missão de aprender a língua dos nativos.
Os nomes da nova terra – Considerada a princípio uma ilha,
a nova terra recebe o nome de Vera Cruz. Desfeito o engano, é chamada de Terra
de Santa Cruz. Em mapas da época e relatos de viagem aparece como Terra dos
Papagaios, aves que os europeus consideram exótica, e de Terra dos Brasis,
devido à abundância da árvore pau-brasil (Caesalpinia
echinata).