Da Babel do Planalto à Terra das Culturas Diversificadas



Colônia Ijuhy Grande, fundada em 19 de outubro de 1890. A primeira “Colônia Nova” surgida uma ano após a Proclamação da República. Seu diferencial em relação às Colônias Velhas: incentivava a migração de povos já radicados nesse espaço de imigração, para que, quando chegassem a Ijuí já possuíssem uma aptidão com as atividades agropastoris. Além disso, a diversidade étnica em torno de vários grupos que, ao cruzar o Atlântico, viam na América a possibilidade de um novo viver.

Antes, a Babel do Planalto, conforme descrevia o padre polonês Antoni Cuber, em um dos únicos relatos sobre os primeiros anos de ocupação. Hoje, Terra das Culturas Diversificadas, em alusão a diversidade étnica-cultural representada pela inserção do “mito imigrante” na condição de desbravador, precursor e construtor de uma identidade cultural, que para muitos reflete orgulho e exaltação, pela necessidade de apego as raízes e marco referencial identitário.

Embora existam registros sobre a presença do elemento indígena, caboclo e de afro-descendentes em nossa região, antes mesmo da ocupação, é o protótipo do elemento europeu que sobressai. E mais que isso, em meados da década de 1980 emerge um movimento de “cunho tradicional” visando um “resgate preservacionista da cultura”, onde alguns elementos culturais do passado visam ser representados em outro contexto histórico, em um outro modelo de sociedade, através de uma Festa Nacional de Culturas Diversificadas.

Nesse contexto, há uma grande diferença entre o vivido e o representado. A priori, nos parece que há a introdução do elemento mercadológico que, utilizando de um passado imigratório, consegue construir “atrativos diversificados” através das casas típicas, danças e gastronomia, dando status e visibilidade, por meio de uma interação passado-presente, a uma historia que é revista, aclamada e exaltada anualmente.

Mas afinal, somos que povo? Alemães, poloneses, afros, letos, suecos, italianos, austríacos, árabes, portugueses, holandeses, espanhóis, gaúchos ou brasileiros? Somos uma variedade, uma diversidade ou uma unidade cultural? O que percebemos é que a condição de pertencimento e de identificação é que define o que somos. Na verdade, somos brasileiros !!! E mais que isso, somos rio-grandenses por nascermos no Rio Grande do Sul. Isso porque, não há nenhuma sociedade moderna que consegue ser “pura”, todas são híbridas culturais. E é justamente esse caráter de hibridismo que faz com que exista esse processo multicultural, onde torna-se complexo e quase impossível identificar a que grupo étnico pertencemos, isto porque sofremos influencias culturais distintas.

No entanto, é o caráter festivo que sobressai e a rememoração do passado como fundamento identificatório. O que temos, é uma história construída pela coletividade diversificada de agentes transformadores naquela, que um dia, fora considerada a Babel do Planalto, e hoje é exaltada como a “Terra das Culturas Diversificadas”.