De volta à terra natal: as lembranças e histórias de Dunga em Ijuí
Técnico voltará à cidade em que nasceu para sua primeira final no comando do Inter
Dona Maria Bledorn Verri cozinha com a porta de casa aberta. Vira-se para o portão após ouvir palmas em frente à casa em que mora, no bairro São José, próximo ao centro de Ijuí.
À reportagem de Zero Hora, a mãe de Dunga pede para não dar entrevista. Quer respeitar o momento do filho. Quis o destino que a primeira final de campeonato do técnico do Inter à frente de seu time do coração fosse em casa. Carlos Caetano Bledorn Verri volta a sua terra natal neste domingo para decidir a Taça Piratini.
– Ele me disse que vem me visitar no domingo, mas acho difícil – comenta a sorridente Dona Maria. Ela garante que a decisão de não atender à imprensa não partiu do filho. Foi uma opção dela por "conhecer o menino".
Menino que, na infância pelas ladeiras ijuienses era atarracado. Melhor: Dunga era gordinho. O apelido, inclusive, vem da forma física. Quando nasceu, seu padrinho, Emídio Perondi (conselheiro do Inter, ex-presidente do São Luiz e ex-presidente da Federação Gaúcha de Futebol), disse que o menino "tinha formato de anãozinho, de dunguinha". A alcunha pegou.
Filho e irmão de professoras, Carlos Caetano tirava boas notas nas primeiras séries do antigo Primeiro Grau. Segundo o boletim cuidadosamente guardado pela arquivista Sandra Maldaner, do Museu Antropológico Doutor Pestana (MADP), no quinto ano da escola Dr. Ruy Ramos, o capitão do Tetra tinha conceito MB (equivalente a notas entre 85 e 94) em Educação Física, Matemática e História. Seu desempenho mais baixo era um B em Educação Artística.
Nota-se que, desde pequeno, Dunga relevava a arte em prol do "estudo de resultados".
Ao lado de sua casa, um campo de futebol de gramado parelho indica que sua paixão mesmo era o esporte. Foi ali que começou a jogar bola. Até porque era o dono dela.
Ao lado de sua casa, um campo de futebol de gramado parelho indica que sua paixão mesmo era o esporte. Foi ali que começou a jogar bola. Até porque era o dono dela.
Em Ijuí, porém, foram poucos chutes. Ele saiu ainda adolescente do clube amador Ouro Verde, localizado no outro lado da cidade, para o Inter, levado por Perondi, ao lado do colega de meio-campo Betinho. Quem viu, garante: Betinho era melhor.
– Quando a gente via os jogos, tinha certeza: dos 22 jogadores em campo, o Dunga não poderia ser profissional – comenta um ex-colega, que pediu para não ser identificado.
Se não primava pela técnica, o jovem volante mostrava, ainda guri, liderança e seriedade. O capitão detestava perder. A derrota o deixava mal-humorado.
O jeito exagerado nas reclamações, porém, é novo. O técnico colorado sempre foi sério, mas nunca desrespeitoso. Nas conversas pela cidade, uma das curiosidades dos ijuienses é saber como se comportará o filho mais ilustre em casa.
Até porque Dona Maria está esperando para jantar. Com ou sem o título.
Futebol de pai para filho
A história dos Verri e do futebol ijuiense se confundem. Dos primeiros chutes em uma esfera de couro ao imortalizado gesto de beijar a Copa do Mundo de 1994, pelo menos uma dezena de Verri brilharam pelos gramados ijuienses. Caetano Verri, avô de Dunga, e os irmãos fundaram o Oriental, um dos primeiros times da cidade, em 1916. Três anos depois, o clube foi rebatizado Grêmio Foot-Ball Ijuhyense.
– É engraçado, não? O avô do Dunga jogou pelo Grêmio. O nome era inspirado no Grêmio. E o Dunga sempre teve tanta identificação com o Inter – diz o historiador Ademar Campos Bindé, um dos maiores arquivos vivos da cidade.
Enquanto o avô de Dunga era goleiro, o pai do técnico colorado, Edelceu, optou pelo outro extremo do campo. O filho mais jovem de Caetano é o maior artilheiro da história do futebol ijuiense, com 155 gols em 298 jogos, segundo levantamento de Bindé.
– Ele até não era brilhante tecnicamente, mas era de um esforço e tinha uma capacidade para fazer gols impressionante – recorda o massagista do São Luiz, José Carlos Graber, 71 anos, que jogou com Edelceu.
Os tios de Dunga também enveredaram para o futebol profissional e amador. Um deles, Marimba, chegou a atuar no Grêmio, nos anos 1940. Os primos também tem ligação com o futebol.
– Estudo futebol há muitos anos. Confesso que não conheço uma dinastia tão grande no esporte como essa família – comenta Bindé.
Fonte ZH