Se
a função do historiador é recordar tudo aquilo que a sociedade esquece, eis um
tema que merece reflexão. Compreender o movimento tradicionalista é saber sem
dúvidas, que o município de Ijuí fora uma das localidades pioneiras,
propulsoras e incentivadoras do culto a tradição do passado.
Em
1942, o Capitão Laureano Medeiros desfilava com o “Esquadrão Farrapo” pela Rua
Benjamim Constant, em Ijuí, no sentido norte-sul. O ato era uma forma de
manifestar o apego aos valores regionais em detrimento a imposição cultural
estrangeira, principalmente dos EUA. É justamente o contexto da Segunda Guerra
Mundial e as identidades locais emergem com o propósito nacionalista na
tentativa de solidificar o tipo regionalista.
Inspirado
em tais festejos, no ano seguinte, o próprio Laureano fundaria o Clube
Farroupilha, bem antes do movimento da Ronda Crioula e fundação do 35CTG em
Porto Alegre. Portanto, os desfiles tradicionalistas de Ijuí, na Rua Benjamim
Constant são anteriores a idealização de Barbosa Lessa e Paixão Cortes e até
mesmo do próprio MTG.
Ijuí,
no início da década de 1990, seria uma das primeiras cidades do Rio Grande do
Sul o instituir o 20 de setembro como feriado. A partir disso, amplas
atividades ligadas às entidades tradicionalistas e um galpão Crioulo na Praça
da Republica, evocam o sentido e o apego aos símbolos riograndenses.
Hoje,
há a alternativa do deslocamento do tradicional desfile de 20 de setembro para
a Avenida 21 de abril. O paradigma instaurado por conta da possível mudança vem
afrontar o que é histórico/tradicional vivido por décadas de tradicionalistas
com algo que busque a estética, a visão ampla e uma melhor acomodação do
público.
No
entanto, o ato de coragem em modificar o itinerário do referido desfile, mostra
cada vez mais, a ineficácia daquilo que se exalta cultuar como uma tradição.
Uma tradição permanece pelos rituais sejam de maneira coletiva ou simbólica. A
passagem para outro espaço reflete a carência/necessidade que aqueles
intitulados tradicionalistas possuem frente a uma sociedade globalizada que
impõe novos valores sociais e culturais, entre os quais, o da estética.
Para
isso, entende-se que todo movimento cultural não é estático. E é a dinamicidade
do mesmo que deve preponderar. Desta forma, a mudança de local do desfile não
estaria fora de contexto.
Assim, o que deveria entrar
em voga nas discussões não seria somente o espaço no qual o desfile seria realizado.
Há a necessidade urgente, para a perpetuação de tal movimento, um entendimento
sobre a cultura gaúcha. Compreender que a mesma não se restringe somente à
dança, canto, gastronomia e ao simples ato de encilhar um cavalo!
Por José Augusto Fiorin - Historiador
Imagens dos tradicionais desfiles tradicionalistas em Ijuí na Rua Benjamin Constant