Invasões Estrangeiras


GRANDES INVASÕES


As invasões das terras brasileiras por outros países europeus começam assim que a notícia do descobrimento espalha-se pela Europa. Algumas são apenas incursões de piratas e aventureiros e limitam-se à pilhagem. Outras são promovidas velada ou abertamente por outras potências européias com o objetivo de conquistar terras no novo continente e estabelecer colônias. Os ingleses, aliados de Portugal, não chegam a invadir o Brasil para estabelecer colônias. Os corsários ingleses – piratas que contam com a proteção velada da Coroa britânica – fazem várias incursões ao litoral, saqueiam cidades e apresam cargas de navios. Franceses e holandeses procuram estabelecer colônias no Brasil.
Invasões francesas

Desde o Tratado de Tordesilhas, no final do século XV, a Coroa francesa manifesta seu desacordo com a divisão do mundo entre Portugal e Espanha. Defende o direito de uti possidetis – a terra pertence a quem dela toma posse – e os franceses se fazem presentes no litoral brasileiro logo após o descobrimento.
Franceses no Rio de Janeiro – Em meados do século XVI, os franceses ocupam o Rio de Janeiro com intenção de estabelecer uma colônia – a França Antártica. A expedição, chefiada por Nicolas Durand de Villegaignon, com apoio oficial, traz colonos calvinistas e os primeiros frades capuchinhos para o Brasil. Fundam em 1555 o forte Coligny, base de sua resistência às investidas dos portugueses por mais de dez anos. Em 1565 são derrotados e expulsos pela armada de Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral Mem de Sá. Ele desembarca na baía de Guanabara, toma o forte de Coligny e funda a cidade do Rio de Janeiro. Em 1710 e 1711 o Rio de Janeiro é saqueado por duas expedições de corsários franceses.
Franceses no Maranhão – Em 1594 os franceses repetem a tentativa de construir uma colônia em terras brasileiras – a França Equinocial – e invadem o Maranhão. A expedição é comandada por Charles des Vaux e Jacques Riffault. Em 6 de setembro de 1612, liderados por Daniel de la Touche, fundam o forte de São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão. São expulsos em 4 de novembro de 1615.
Invasões holandesas

Antes do período de domínio espanhol sobre Portugal (1580 a 1640), portugueses e holandeses têm vários acordos comerciais: companhias privadas holandesas ajudam a financiar a instalação de engenhos de açúcar, participam da distribuição e comercialização do produto na Europa e do transporte de negros da África para o Brasil. Espanha e Holanda, no entanto, são potências rivais e, durante o domínio espanhol, os holandeses são proibidos de aportar em terras portuguesas e perdem os privilégios no comércio do açúcar.
Companhia das Índias Ocidentais – Para garantir e ampliar seus negócios na América e na África, governo e empresas comerciais privadas holandesas formam, em 1621, a Companhia das Índias Ocidentais – um misto de sociedade mercantil militarizada e empresa colonizadora. Seu objetivo é garantir o mercado fornecedor de açúcar e, quando possível, criar colônias nas regiões produtoras. Interfere também no tráfico negreiro, até então monopolizado por Portugal e indispensável ao modelo de produção açucareira instaurado no Brasil.
Holandeses na Bahia – A primeira tentativa holandesa de se estabelecer no Brasil ocorre em maio de 1624. Uma expedição conquista Salvador e consegue resistir aos portugueses por quase um ano. Em abril de 1625 são repelidos por uma frota de 52 navios organizada por Espanha e Portugal.
Holandeses em Pernambuco – Em 1630 os holandeses fazem nova investida. Conquistam Recife e Olinda, em Pernambuco, maior centro produtor de açúcar da colônia. Permanecem na região por 24 anos. Conquistam o apoio de boa parcela da população pobre local, como o mulato Calabar, e de muitos senhores de engenho. O período de maior prosperidade da colônia holandesa ocorre no governo do príncipe de Nassau, entre 1637 e 1644. Quando Nassau volta para a Holanda, a vila de Recife entra em rápida decadência. Conflitos entre os administradores e donos de engenho reduzem a base de apoio dos holandeses e sua resistência diante dos constantes ataques portugueses.
Domingos Fernandes Calabar (?-1635) é um mulato pernambucano nascido em Porto Calvo. No início da invasão holandesa, entre 1630 e 1632, ele combate os invasores. Em 1633 muda de lado. Os holandeses oferecem liberdade civil e religiosa para quem os apoiar e conquistam a adesão de muitos índios, negros, mulatos e cristãos-novos. Calabar passa a lutar ao lado de seus antigos inimigos. Preso em 1635 em uma das inúmeras escaramuças com os portugueses, diz acreditar que o domínio holandês é mais benéfico que o português. Considerado traidor, é enforcado por ordem do governador da capitania de Pernambuco, Matias de Albuquerque.
Governo Nassau – O príncipe João Maurício de Nassau chega à vila de Recife como governador em 1637. Entre seus colaboradores traz pintores, como Franz Post e Albert Eckhout, que retratam cenas do cotidiano da colônia, e uma equipe de cientistas. Promove estudos de história natural, astronomia, meteorologia e medicina. As doenças que afetam a população são catalogadas e investigadas. Em seus sete anos de governo, amplia a lavoura açucareira, desenvolve fazendas de gado, constrói hospitais e orfanatos e assegura a liberdade de culto aos católicos, protestantes e judeus.
Johann Mauritius van Nassau-Siegen (1604-1679), o príncipe de Nassau, nasce no castelo de Dillemburg, Alemanha, num dos ramos da casa de Nassau, família que participa do trono da Alemanha e dos Países Baixos (Holanda). Ingressa na vida militar muito cedo, em 1618, durante a Guerra dos Trinta Anos, quando entra no exército dos Países Baixos. Distingue-se no campo de batalha e conquista grande poder e prestígio. Em 1632 começa a construir o palácio Mauritius, em Haia, e contrai muitas dívidas. Em 1636 aceita o convite da Companhia das Índias Ocidentais para administrar a colônia holandesa no Brasil, por um salário milionário: 1.500 florins mensais, ajuda de custo de 6.000 florins, soldo de coronel do exército e 2% sobre todos os lucros obtidos. Depois de sete anos no Brasil, desentende-se com a Companhia das Índias e volta à Holanda. Ocupa vários cargos diplomáticos e militares importantes: governador de Wessel e general da cavalaria, governador do principado de Kleve, embaixador junto à dieta de Frankfurt. Em 1652 recebe o título de príncipe do Império Germânico. Retira-se da vida pública em 1674.
Batalhas de Guararapes – As duas batalhas dos Guararapes, em 1648 e 1649, são decisivas para a derrota dos holandeses. Elas reúnem forças do Estado do Maranhão e do Governo Geral da Bahia. Os holandeses capitulam em 26 de janeiro de 1654 e reconhecem formalmente a soberania portuguesa sobre a vila de Recife em 1661, no tratado conhecido como Paz de Haia.