Assentada na propriedade monocultora e na escravidão, a
sociedade colonial é patriarcal e sem mecanismos de mobilidade social. O poder
concentrado em grandes proprietários estimula o clientelismo: os agregados –
homens livres que gravitam em torno do engenho – e as populações das vilas
dependem política e economicamente dos senhores, inclusive de seus favores
pessoais.
Vida urbana – No nordeste açucareiro a sociedade
é basicamente agrária. A vida urbana se desenvolve primeiramente nas regiões
das minas. A própria natureza da atividade mineradora, com sua variedade de
funções e serviços, estimula o comércio, a formação de núcleos populosos e
permite maior mobilidade social.
População – Em 1770 a Coroa portuguesa
estima que a população da colônia seja de 1,5 milhão a 2,5 milhões de pessoas.
Destas, 20,5% estão concentradas em Minas Gerais , 18,5% na Bahia, 15,4% em
Pernambuco, 13,8% no Rio de Janeiro, 7,5% em São Paulo e 24,3%
espalham-se pelas outras capitanias.
Resistência
dos escravos
As rebeliões e conflitos com escravos atravessam todo o
período colonial e se estendem até a abolição da escravatura, em 1888. São
comuns os casos de suicídio, de fugas, de abortos provocados pelas escravas e
os assassinatos de senhores, feitores e capitães-do-mato. Revoltas e fugas
coletivas nos engenhos são freqüentes, principalmente no século XVIII, quando
há vários levantes urbanos. Na resistência à opressão branca, os escravos
negros também se organizam coletivamente e formam quilombos. Há registros
desses núcleos autônomos de negros fugidos ao cativeiro em todas as áreas do
Brasil onde aescravidão se fez presente. O mais conhecido é o Quilombo de
Palmares.
Quilombo de Palmares – Formado na região do atual Estado
de Alagoas por volta de 1630, Palmares é uma confederação de quilombos
organizada sob a direção de Zumbi, o chefe guerreiro. Os palmarinos praticam a
policultura: plantam milho, feijão, mandioca, batata-doce, banana e
cana-de-açúcar. Também criam galinhas e suínos e conseguem um excedente de
produção que é trocado nos povoamentos vizinhos. A fartura de alimentos em
Palmares é um dos fatores fundamentais de sua resistência. Chega a reunir 30
mil habitantes e resiste às investidas militares dos brancos por 65 anos. É
destruído em 1694. Zumbi foge e é morto em 1695.
Revolta dos malês – Os malêssão negros das nações Nagô
e Tapa que professam a religião muçulmana e são alfabetizados na língua árabe.
Em janeiro de 1835 lideram um levante em Salvador considerado como a mais
organizada das insurreições urbanas de escravos de todo o período escravocrata.
Seus líderes mantêm contato com os cativos do Recôncavo Baiano, grupos de Santo
Amaro e Itapagipe. Reúnem-se periodicamente para discutir os detalhes do
movimento e formam um fundo de guerra que chega a juntar 75 mil-réis.
Plano de ação dos malês – De acordo com o plano de ataque,
assinado por um escravo de nome Mala Abubaker, os revoltosos sairiam da Vitória
(atual bairro da Barra, em Salvador), "tomando a terra e matando toda a
gente branca". De lá rumariam para a Água dos Meninos e, depois, para
Itapagipe, onde se reuniriam ao restante das forças. O passo seguinte seria a
invasão dos engenhos e a libertação dos escravos. O plano é denunciado às
autoridades da Província, que preparam a contra-ofensiva. Os revoltosos atacam
na madrugada de 25 de janeiro. Sem contar com o fator surpresa, o levante é
desbaratado em dois dias. Cerca de cem escravos e negros libertos são mortos
nos confrontos com a polícia, 281 são presos e pelo menos cinco dos principais
chefes são fuzilados. Entre seus pertences são encontrados livros em árabe e
rezas muçulmanas.
Poder
religioso
A Igreja Católica participa de todo o projeto de expansão
ultramarina português por intermédio da Ordem de Cristo e está presente no
Brasil desde o descobrimento. Os primeiros religiosos da Companhia de Jesus
chegam com Tomé de Souza, na instalação do Governo Geral. Os jesuítas cuidam do
registro de nascimentos, casamentos e mortes; estudam as culturas locais e se
opõem à escravidão indígena.
Primeiro bispado – Em 1552, por insistência do
jesuíta Manoel da Nóbrega, dom João III autoriza a criação do primeiro bispado em Salvador. Dom Pero
Fernandes Sardinha, primeiro bispo, chega em junho daquele ano. Institui o
sistema de padroado, pelo qual o rei age como perpétuo administrador da Ordem e
Cavalaria do Mestrado de Nosso Senhor Jesus Cristo. Carmelitas fundam seu
primeiro convento em Pernambuco, em 1584; franciscanos chegam em 1587. A partir de 1594
capuchinhos franceses instalam-se no Maranhão e monges beneditinos, no Rio,
Bahia e Pernambuco. A ação missionária é regulamentada em 1696 pelo Regimento
das Missões.
Primeiras escolas – Entre 1554 e 1570 os jesuítas
fundam no Brasil cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, Espírito
Santo, São Vicente e São Paulo de Piratininga) e três colégios (no Rio de
Janeiro, Pernambuco e Bahia). A organização do ensinosegue a orientação do Real
Colégio das Artes de Coimbra, chamada ratio
studiorum. O currículo divide-se em duas seções ou classes distintas.
Nas classes inferiores, com duração de seis anos, ensinam-se retórica,
humanidades, gramática portuguesa, latim e grego. Nas classes superiores, com
três anos, os alunos aprendem matemática, física, filosofia, que inclui lógica,
moral e metafísica, além de gramática, latim e grego.
Expulsão dos jesuítas – Em meados do século XVIII cresce
em Portugal uma oposição sistemática aos jesuítas, liderada por dom Sebastião
José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal, ministro do rei dom José I. Sob o
argumento de que a Companhia de Jesus se transformara num Estado dentro do
Estado português, consegue expulsar os jesuítas de Portugal e de suas colônias
em 1759. No Brasil, com a saída dos jesuítas, colégios e seminários são
fechados e as diferentes formas de registro civil ficam desorganizadas. A
reforma pombalina da educação, em 1770, substitui o sistema jesuítico por um
ensino laico, dirigido pelos vice-reis.